de dois que se transformaram em um


Ver o teu queixo tremer de emoção com o que eu te escrevi.
Olhar nos teus olhos, que escapam dos meus.
O que você teme em mim?
Seria a juventude que hoje me sorri e que te fugiu?
Ela me fugirá também, e sorrirá para outros...
Seria a doce irresponsabilidade que me cerca e da qual você abriu mão?
Também eu terei que abrir mão dela.
Jovens, velhos, somos todos da mesma idade.
Felizes e infelizes, todos  enganamos a nós mesmo.

Não culpe a mim nem a si pelo que perdemos.
Sim, pois também eu perdi.
Perdi os teus sorrisos, perdi a tua alegria de viver.
A tua felicidade por mais deturpada que fosse me alimentava a alma.
Não quero a responsabilidade de ser eu a que é feliz.

Esperemos o tempo passar; suportar é tudo.
E quanto mais acumularmos, mais perderemos.
Quanto mais intensamente vivamos, mais difícil será abrir mão da vida.
Levemos conosco só o que se pode carregar nas mãos e no peito,
O mais é nada. É fardo a se carregar e a se perder mais tarde.

Colhe as alegrias que a vida te oferta.
Ame-as e admire-as enquanto elas dançam na tua alma,
Pois, tal quais as flores daquele jardim, elas perderão o odor,
Tal qual a vida em si, elas perderão o encanto.
E como nós próprios, afinal, essas alegrias murcharão,
Serão esquecidas e deixarão de existir.

intervalo consciente


Tarde em casa. Eu e Luis sentados, fazendo o que mais gostamos de fazer, Val chega do trabalho, joga a bolsa no chão e exclama:

- Cara, tô me sentindo tão fora do tempo!!! Hoje lá no escritório eu descobri que o Espanta morreu há tempos...

- O Espanta morreu?! - pergunto, alienada.

- Quem é Espanta? - Luis, relaxadíssimo.


[ sim, somos autistas por opção ] 



Roza

intromições



Às vezes o destino entra nos meus pensamentos para não mais sair. Ele me bombardeia com flashes das coisas que podem acontecer.
Podem acontecer sim, pois eu sei ter plantado as sementes há muito. É como se, em cada escolha que eu faça, eu possa ver o que vai acontecer muitos anos à frente, resultando de cada pequenina decisão.
Sempre que eu posso suportar eu faço a escolha correta. As pessoas, elas não entendem as minhas decisões, nem eu tenho energia, sequer paciência, para explicar.
Eu vou vivendo por caminhos incertos, me afastando de quem deveria me aproximar e deixando fazer parte dos meus dias quem nada é para mim.
Mas eu posso ver... Eu posso ver que da mesma forma que para eu dizer “Olá” no futuro eu devo dizer “Adeus” hoje, eu deixo o nada entrar na minha vida para que ele possa vir a ser tudo.
Às vezes o medo de nunca mais reencontrar uma coisa ou pessoa para a qual eu disse adeus me toma, mas eu tento me conformar com a idéia de que todos nós passamos, afinal; causa menos danos à alma você estar consciente da despedida do que ter algo arrancado de si, num adeus mudo e definitivo.
Conformemo-nos e saibamos que mesmo plantando sementes disto ou daquilo, nunca se pode ter a certeza do que se colherá. O mundo, a vida, o futuro são incertos e tendem a mudar com quase a mesma rapidez que meus sentimentos. Quase.

Roza