vozes da floresta

As árvores falam numa língua só delas.
Uma língua rangida que conta de amores-sementes soprados para longe,
De famílias arrancadas por aqueles que não têm raízes,
De membros amputados pela mão dolorosa do tempo.

As árvores falam.
Elas falam comigo quando passeio por florestas frias e escuras.
Elas choram para mim quando me sento perto delas e passo longo tempo a contemplá-las.
Elas choram.
Choram pelos seus dias contados na Terra.
Choram porque ninguém mais as cultua como outrora.
Elas lamentam porque lembram que um dia animais vinham repousar sob sua sombra, elas me perguntam por eles, mas o que eu posso dizer?

Elas sofrem.
Sofrem porque sentem o lamento de todo o planeta.
Elas me dizem: Você não entente, você não tem raízes. Você pode enterrar seus pés no chão, mas nada vai frutificar de você e ninguém virá repousar sob sua sombra.

Eu digo que a entendo.
Eu também choro meus amores soprados para longe.
Eu também sofro pela família que foi arrancada de mim,
E eu também tive sentimentos amputados de mim para nunca mais.
Eu digo que eu também tenho meus dias contados na Terra – todos nós,
E que um dia eu também vou virar raiz.

As árvores se lamentam agora por mim e por elas e por todos nós.
Eu sofro e elas sofrem e os grilos cantam toda uma sinfonia para nós.
E o vento vem e sopra nos meus cabelos e nas suas folhas
E nós nos calamos
Estranhamente reconfortadas.