Day After


 
Objetos, pessoas, fenômenos naturais, animais, todos parecem ter – e têm!-, um fim, um motivo de ser. Nunca me livrei e temo nunca me livrar da sensação de não ser daqui, de não pertencer a lugar algum: vila ou grande centro. O meu desejo constante, latente, é fugir. Fugir do que conquistei, fugir do que conheço, fugir do que pode me prender ainda mais a este lugar.

Meu desejo é estar em fuga contínua. Sem parar jamais. Passar pela vida das pessoas como a brisa a beira-mar que no passar trás carícia, calor e certo conforto, e que é belo por saber que será breve e que não se pode segurar com as mãos. Passar, passar e passar. É a minha vez de passar. É a minha vez de querer. Estive observando partirem de mim para nunca mais a minha vida inteira: espectadora da vida fora de mim e do mundo. Sempre assisti. Agora quero ir! 

Abro e abro meus olhos e só consigo olhar para dentro. De que outro mundo fui exilada? Porque aqui? Porque este planeta com pessoas estranhas que eu compreendo com um distanciamento pedante, mas onde ninguém – ninguém! -, consegue entender o que me passa no intimo? 
Sinto-me sozinha. Infinitamente sozinha e incompreendida. Faço-me banal e fútil para ser compreendida. Ou calo. Mas tenho calado a vida inteira! Desejo fútil de encontrar o que nunca perdi, mas que ainda assim sei que me falta. Não adianta procurar. O nunca tive não está aqui.

Um dia, meu Deus, um dia encontrarei o que não sei que perdi?

da inconstância (da vida e dos sentimentos)


Olhos se cruzam. Redes de encantos são atiradas um ao outro. Encontros inesperados à beira mar, duas garrafas de vinho, duas taças sujas de terra, muitos sorrisos na boca... Sabores descobertos, conhecimentos mútuos um do outro se expandem, expectativas começam a pulular nas mentes (e corações) um do outro. 

Cada pequeno minuto a mais é um a menos para o inevitável fim.
E por que não teria fim? Somos todos finitos, nós e o que nos cerca, porque um reles sentimento não seria? Uma coisa que sequer pode ser tocada... É óbvio que acabaria, para logo depois se iniciar outro ciclo. Tudo de novo, mas sempre de modo diferente. Não importa quantas vezes amamos, sempre nos parecerá diferente.

Então o que buscamos seria uma pessoa em especial ou um determinado estado de espírito? Amar é tão importante assim, ao ponto de dedicarmos nossos dias, doarmos não só nossos corpos, mas nosso tempo, nossa solidão ao outro? 

Quem no mundo decidiu que amar seria nossa utopia? E o que sentimos nesta vida? Coisas tão avassaladoras me inundam a alma. Sentimentos tais que senti-los é quase perecer, tão poderosos sentimentos. Pra onde eles vão? Juras eternas. Ódios. Amores. Paixões. Amizades. Acaba?
Impossível. 
Tudo se transforma. 

Os amores que senti nunca acabaram. Só mudaram... Alguns para amizades profundas, outros para descabidas aversões; há ainda os que simplesmente mergulharam no esquecimento, podendo muito bem retornar a qualquer momento. Amizades transformam-se em amores possíveis, ódios em paixões e essas paixões em indiferença. 
No fim dos nossos dias, será que o mundo a nossa volta guarda nosso gosto quando nos dissolvemos? Será que os seres absorvem um pouco da nossa essência quando esta se esvai de nós? O que será que será?
Tudo permanece, casas, árvores, mar, céu. Somente nós passamos e mal conseguimos deixar para trás um nome...