Das palavras guardadas, ansiosas por falar



Eu queria. Olhar-te nos olhos uma última vez, como eu queria. Segurar assim no teu queixo delicado e olhar bem dentro daqueles profundos olhos azuis e te dizer o quanto eu te amo, o quanto este amor nunca, nunca, vai acabar.
Depois eu queria sentar contigo no chão gramado e, de cabeça baixa e pedaços de grama entre os dedos, te falar de tudo que tem acontecido nesses três anos. Tantas batalhas internas, eu brigando loucamente comigo mesma. Eu ia te falar também de como eu tenho sido fraca, tentando não pensar em ti, tentando não planejar o amanhã.
Eu queria te contar de como eu pego minha dor com as mãos, brinco e me rio dela e depois (quando ninguém está olhando), eu a guardo com todo o cuidado no fundo do meu peito, onde eu acho que ela deve permanecer para sempre.
Eu ainda queria te mostrar tudo que eu já vivi, o quanto eu deixei de ser aquela garotinha que tu tinhas que dar sermão. Queria que você experimentasse ouvir Svefn-G-Englar comigo, deitadas no sofá, uma com cada fone, eu queria tanto ver os teus olhos brilhando ao perceber que acabara de conhecer uma música tão linda e diferente.
Eu queria rir daquela tua dancinha linda. Fazer cócegas em ti e por entre nossos risos te perguntar por que os meus dias são tão cinzas sem ti; Por que tu, dentre todas as pessoas, teve que partir.
Eu olho em volta, sentimentos e pessoas vão desmoronando; casas são pintadas de cores engraçadas; fotos outrora tão importantes hoje vejo teus amigos descartarem; teus antigos amores, com roupas novas, saem para te esquecer. Tudo vai mudando como se o mundo precisasse fingir que você não existiu e dentro de mim só a tua morte jaz erguida, sentimento constante e permanente.
O que eu não daria para ver, uma única vez mais, uma janelinha azul claro avisando: “Sú acabou de entrar.”