borboletas no vidro

E dizem que a vida continua
Como as horas passam
Os relógios atrasam
Como a nuvem flutua

Borboleta no vidro
Deixe-a ir pro claro
Pro ar mais raro
Num longo suspiro

E dizem que a vida é breve
Como o tempo errado
Como dia nublado
A história que se escreve

Apressada como um raio
Noiva no mês de maio
A vejo correr pela casa
Folia de juventude em brasa

E poderia até ver seu futuro
Os filhos que teria
Roseiras ao pé do muro
Suzaninhas com medo do escuro

E eu nem a pude conhecer
Nem segurar sua mão na hora cinza
No azul do olhar, do mar e a brisa

Nem saber o que se passava
Nem passar por ela
Nesse abismo que o coração
Deprime ao chão e eleva em asas

E agora me olhas lá de cima
Sorriso em alvoroço
Beijos dobrando a esquina

E agora a minha lembrança guarda
Em minha memória vive
Suzaninhas correndo pela casa
Livre, livre!

Para um brincalhão raio de luz que me tocou de leve a testa e me deixou uma Roza com z de lembrança.
(Pedro)



Poesia mais linda que Predo escreveu pra minha flor de maracujá.




La Redécouverte


É incrível como em uma noite escura em que não consigo ver amanhãs possíveis, uma melodia possa inundar tão plenamente de esperança minha alma.
Ela, a melodia, vai dançando no meu peito fazendo das minhas veias cordas encantadas que, ao serem dedilhadas, murmuram de amores que se tornam possíveis, preocupações seladas, cabeças afagadas, noites brancas...

De repente a antes doce melodia se revolta e vem vestida de negro e coque no alto da cabeça, trás consigo um arco e tira de minhas cordas sons agudos e hipnotizantes. Minhas noites brancas tornam-se vermelhas e deixo-me seduzir pelo tango, que me embala, dança comigo e grita de fogos que nunca se apagam, me mente tão inocentemente...

Veja você, depois disso tudo vivido, sentido, apreciado, ela, a melodia, vem me cantar de conformidades e de destinos inexoráveis... Canta de batidinhas nas costas e de que a vida vai acostumar. Mas como poderia eu, de peito fragilizado de tanta vivência, não aceitar o som que me conforta, me põe no colo e me nina, me deixa as mãos em conchas e lençóis entre as pernas e me sussurra docemente uma canção que só fala de adormecer e não mais levantar...

Lárálalala

dos que foram especiais e sempre o voltam a ser



Eu procuro as pessoas. Não tenho escrúpulo nenhum de pensar que posso incomodar, mas quando a saudade vem dobrando a esquina, espiando pra ver se estou em casa, fujo apressada pela porta traseira e vou atrás do que ela quer assim ela nem me atormenta.
Mas hoje reparei que há algumas pessoas a quem eu procuro e de quem eu me perco constantemente.
Tem uma menina que desde 2004 ilumina os meus dias. Ela vai e volta, ama e desama, está e não está ao meu alcance, mas ela nunca me sai dos pensamentos. Já vivemos tantas coisas. Ela já me ajudou tanto, já brigou comigo, já foi legal, já foi chata, já me salvou de mim mesma. Eu estava triste num dia ensolarado e cheio de pessoas a sorrir e a cantar, quando ela apareceu na minha vida e pediu pra fazer morada permanente nos meus dias, eu, que nem sou boba nem nada, a puxei pra minha vida antes que ela mudasse de idéia. Desde então foram tantos passeios pela beira-mar, tantos amores vividos, tantas viagens sem destino... Ela me ama e eu a amo. E ela tem uma voz tão doce...
E tem um garotinho que eu encontrei por acaso numa tarde ensolarada no meio de uma rua enlameada em 2002, porque minha amiga pensou que ele fosse o irmão dele. A blusa listrada preta e branca que ele usava ainda está guardada no meu olhar. Ele está sempre indo e voltando dos meus dias. E é tão bom reencontrar.
Tem também um moço todo especial e de nariz empinado, pregando poder controlar tudo: desde o seu cachorro ao mais sutil sentimento, mas que, na verdade, tem dentro de si um garoto de 16 anos todo assustado e de cantos de boca para baixo. Estávamos eu e aquela garotinha da voz doce perdidas numa rua de pedras engraçadas quando nossos destinos se cruzaram com o garoto de nariz empinado, foi no belo 2006, o ano antes. Um ano tão doce e apaixonado, como se fosse a ceia antes da sentença... Esse moço de nariz a fitar o céu é todo lindo e todo perfeição. Ele é um sonho. E eu sempre que posso o resgato para os meus dias. Acalentadores dias...
E há ele. O que está tão longe e tão próximo de mim. Frágeis muros de vento, fronteiras, a nos separar. Conversas salvas, afagos prometidos e um ou outro DDD me provam que ele é real e que eu ainda estou sã. Hoje mesmo ele salvou meu dia, que tinha tudo pra ser a sexta-feira mais cinza do mês. Ele entrou no meu coração já empoeirado e passou a tarde toda comigo. Infelizmente às 17:49 ele teve que fugir apressado e pediu pra eu guardar a felicidade dele no mesmo lugar que eu ia deixar a minha. Ele ainda não sabe, mas eu não planejo devolver, a não ser que ele volte pra buscar. Mas ele vem. Eu me enamorei pela alma desse menino desde que eu vi um /infloenzae no mundo dos fotolog’s, em 2004, e desde então ele sempre aparece pra me iluminar os olhos e deixar minhas vontades com água na boca. E mesmo com essas visitas meus dias são cheios de saudades ao avesso. Saudades do que não foi. Do que ainda nem perdi. Do que não é meu.
Roza Larissa
06/02/2010