de dois que se transformaram em um


Ver o teu queixo tremer de emoção com o que eu te escrevi.
Olhar nos teus olhos, que escapam dos meus.
O que você teme em mim?
Seria a juventude que hoje me sorri e que te fugiu?
Ela me fugirá também, e sorrirá para outros...
Seria a doce irresponsabilidade que me cerca e da qual você abriu mão?
Também eu terei que abrir mão dela.
Jovens, velhos, somos todos da mesma idade.
Felizes e infelizes, todos  enganamos a nós mesmo.

Não culpe a mim nem a si pelo que perdemos.
Sim, pois também eu perdi.
Perdi os teus sorrisos, perdi a tua alegria de viver.
A tua felicidade por mais deturpada que fosse me alimentava a alma.
Não quero a responsabilidade de ser eu a que é feliz.

Esperemos o tempo passar; suportar é tudo.
E quanto mais acumularmos, mais perderemos.
Quanto mais intensamente vivamos, mais difícil será abrir mão da vida.
Levemos conosco só o que se pode carregar nas mãos e no peito,
O mais é nada. É fardo a se carregar e a se perder mais tarde.

Colhe as alegrias que a vida te oferta.
Ame-as e admire-as enquanto elas dançam na tua alma,
Pois, tal quais as flores daquele jardim, elas perderão o odor,
Tal qual a vida em si, elas perderão o encanto.
E como nós próprios, afinal, essas alegrias murcharão,
Serão esquecidas e deixarão de existir.