das vontades do meu coração



Eu só quero a responsabilidade do primeiro beijo. Depois disso nada sei. Não me peça garantias, não posso dizer se vou até o fim, se vou parar antes do imaginado. Eu não sei. Sou imprevisível. Faz parte de mim, odiar paradigmas.
Já tentei fazer o planejado, responsabilidades e promessas jogadas na face, mas essa vida de vírgula em lugares corretos me farta.
Sempre faço as vontades do meu coração. Não sei se o trato como uma criancinha doente, mimando-o, ou se dou logo o que ele quer para que ele se acalme e volte para a sua letargia natural, fatigado de mais um final brusco.
Tudo é gostar, é satisfação, é encontrar no outro o que amamos e falta em nós mesmos. Então por que se preocupar por quanto tempo isso nos bastará?
A única coisa que tento pensar é: “Porque não? Talvez seja bom. Talvez eu até queira repetir.” Quase sempre o desinteresse me toma. Mas o meu desinteresse não vem de dentro de mim.
Ah... Mas quando é bom... Quando existe o querer mais... A sensação do prazer já sentido a se repetir, quando você já conhece de tal forma as nuances desse prazer ao ponto de saber todas as direções que ele há de tomar, olhos abertos no momento certo, pontas de dedos afagando pele macia... Aceito a dádiva. Por menor que seja o sentir, em todas as suas formas, é verdadeiro. Fecho os olhos, é o bastante.


poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.



Os versos acima, escritos com o heterônimo de Álvaro de Campos, foram extraídos do livro "Fernando Pessoa - Obra Poética", Cia. José Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 418.

borboletas no vidro

E dizem que a vida continua
Como as horas passam
Os relógios atrasam
Como a nuvem flutua

Borboleta no vidro
Deixe-a ir pro claro
Pro ar mais raro
Num longo suspiro

E dizem que a vida é breve
Como o tempo errado
Como dia nublado
A história que se escreve

Apressada como um raio
Noiva no mês de maio
A vejo correr pela casa
Folia de juventude em brasa

E poderia até ver seu futuro
Os filhos que teria
Roseiras ao pé do muro
Suzaninhas com medo do escuro

E eu nem a pude conhecer
Nem segurar sua mão na hora cinza
No azul do olhar, do mar e a brisa

Nem saber o que se passava
Nem passar por ela
Nesse abismo que o coração
Deprime ao chão e eleva em asas

E agora me olhas lá de cima
Sorriso em alvoroço
Beijos dobrando a esquina

E agora a minha lembrança guarda
Em minha memória vive
Suzaninhas correndo pela casa
Livre, livre!

Para um brincalhão raio de luz que me tocou de leve a testa e me deixou uma Roza com z de lembrança.
(Pedro)



Poesia mais linda que Predo escreveu pra minha flor de maracujá.




La Redécouverte


É incrível como em uma noite escura em que não consigo ver amanhãs possíveis, uma melodia possa inundar tão plenamente de esperança minha alma.
Ela, a melodia, vai dançando no meu peito fazendo das minhas veias cordas encantadas que, ao serem dedilhadas, murmuram de amores que se tornam possíveis, preocupações seladas, cabeças afagadas, noites brancas...

De repente a antes doce melodia se revolta e vem vestida de negro e coque no alto da cabeça, trás consigo um arco e tira de minhas cordas sons agudos e hipnotizantes. Minhas noites brancas tornam-se vermelhas e deixo-me seduzir pelo tango, que me embala, dança comigo e grita de fogos que nunca se apagam, me mente tão inocentemente...

Veja você, depois disso tudo vivido, sentido, apreciado, ela, a melodia, vem me cantar de conformidades e de destinos inexoráveis... Canta de batidinhas nas costas e de que a vida vai acostumar. Mas como poderia eu, de peito fragilizado de tanta vivência, não aceitar o som que me conforta, me põe no colo e me nina, me deixa as mãos em conchas e lençóis entre as pernas e me sussurra docemente uma canção que só fala de adormecer e não mais levantar...

Lárálalala

dos que foram especiais e sempre o voltam a ser



Eu procuro as pessoas. Não tenho escrúpulo nenhum de pensar que posso incomodar, mas quando a saudade vem dobrando a esquina, espiando pra ver se estou em casa, fujo apressada pela porta traseira e vou atrás do que ela quer assim ela nem me atormenta.
Mas hoje reparei que há algumas pessoas a quem eu procuro e de quem eu me perco constantemente.
Tem uma menina que desde 2004 ilumina os meus dias. Ela vai e volta, ama e desama, está e não está ao meu alcance, mas ela nunca me sai dos pensamentos. Já vivemos tantas coisas. Ela já me ajudou tanto, já brigou comigo, já foi legal, já foi chata, já me salvou de mim mesma. Eu estava triste num dia ensolarado e cheio de pessoas a sorrir e a cantar, quando ela apareceu na minha vida e pediu pra fazer morada permanente nos meus dias, eu, que nem sou boba nem nada, a puxei pra minha vida antes que ela mudasse de idéia. Desde então foram tantos passeios pela beira-mar, tantos amores vividos, tantas viagens sem destino... Ela me ama e eu a amo. E ela tem uma voz tão doce...
E tem um garotinho que eu encontrei por acaso numa tarde ensolarada no meio de uma rua enlameada em 2002, porque minha amiga pensou que ele fosse o irmão dele. A blusa listrada preta e branca que ele usava ainda está guardada no meu olhar. Ele está sempre indo e voltando dos meus dias. E é tão bom reencontrar.
Tem também um moço todo especial e de nariz empinado, pregando poder controlar tudo: desde o seu cachorro ao mais sutil sentimento, mas que, na verdade, tem dentro de si um garoto de 16 anos todo assustado e de cantos de boca para baixo. Estávamos eu e aquela garotinha da voz doce perdidas numa rua de pedras engraçadas quando nossos destinos se cruzaram com o garoto de nariz empinado, foi no belo 2006, o ano antes. Um ano tão doce e apaixonado, como se fosse a ceia antes da sentença... Esse moço de nariz a fitar o céu é todo lindo e todo perfeição. Ele é um sonho. E eu sempre que posso o resgato para os meus dias. Acalentadores dias...
E há ele. O que está tão longe e tão próximo de mim. Frágeis muros de vento, fronteiras, a nos separar. Conversas salvas, afagos prometidos e um ou outro DDD me provam que ele é real e que eu ainda estou sã. Hoje mesmo ele salvou meu dia, que tinha tudo pra ser a sexta-feira mais cinza do mês. Ele entrou no meu coração já empoeirado e passou a tarde toda comigo. Infelizmente às 17:49 ele teve que fugir apressado e pediu pra eu guardar a felicidade dele no mesmo lugar que eu ia deixar a minha. Ele ainda não sabe, mas eu não planejo devolver, a não ser que ele volte pra buscar. Mas ele vem. Eu me enamorei pela alma desse menino desde que eu vi um /infloenzae no mundo dos fotolog’s, em 2004, e desde então ele sempre aparece pra me iluminar os olhos e deixar minhas vontades com água na boca. E mesmo com essas visitas meus dias são cheios de saudades ao avesso. Saudades do que não foi. Do que ainda nem perdi. Do que não é meu.
Roza Larissa
06/02/2010

de sorrisos a cabelos despenteados




Acordo. Cabelos e pensamentos embaralhados. Ela já está no chuveiro. Nos cruzamos na porta. Ela vai preparar nosso café, eu fico enrolando, molhando só o pezinho, aproveitando a sensação da água gelada entre os dedos. Quando vou tomar café ela já está se maquiando. “Amanhã tu acorda as 06:30. Vou me atrasar, Roza!”, “Vai sozinha.”, retruco. Seguro um sorriso, ela também. Sabemos que não vamos sós.
Chego no trabalho mais cedo do que deveria. O “Power” afunda sob meus dedos, e me preparo para mais um dia sentada na frente dessa telinha. Vejo os emails, atualizo sistemas, e vou pra parte prazerosa: dois cliques nos bonequinhos verde/azul.
Predo diz: Bom dia! \o
Um sorriso se abre no meu rosto, iluminando a minha sala. Aproveito-o para saudar as colegas que chegam, e volto a minha atenção pra janelinha piscando aqui em baixo.
Antes mesmo do convite de exibição da webcam vir já o vejo. Camisa amarrotada me fala de batalhas na cama. Estendo a mão pro monitor, quase sentindo os fios bagunçados abraçando meus dedos.
Ele já está ali, o sorriso, meio escondido, entre uma covinha e outra, tentando, inutilmente, passar despercebido. Eu o instigo. Falo bobagens. Ele morde o lábio inferior. Não quer aparecer. Em vão, ele já está ali, já é meu.
Prelúdios de conversas em domingos que nunca virão me passam no cantinho do olho. Eu, ele, ela e ele. Muros de vento nos cercando. Muros que embora não possa ver, sinto. Sinto até quando não está lá. Principalmente quando não está lá. Onde estará?

do amor e outros demônios

O que ele pensa é o que eu falo, mas eu nunca falo o que penso. Pra ele não. É como uma vontade absurda de não me deixar ver.
A contrariedade desse sentimento é quase palpável, pois que não há nada que eu mais queira do que ser reconhecida. A diferença é que, de acordo com meus pensamentos mais torpes, outros poderiam me apreciar, ele não. E mesmo se esses “outros” não se apetecessem de mim isso não me causaria dano nenhum à alma. Mas se nos olhos dele passasse o mais leve sinal de desinteresse isso feriria de modo irreversível meu orgulho.
Assim vamos passando pelos dias um do outro: ele me mostrando o quão maravilhoso é, eu oferecendo só uma rápida olhadela no meu interior, mas ao mesmo tempo me mostrando, de todo meu ser, para pessoas próximas a ele, será isso porque sei que assim ele me conhecerá um pouco mais?
A medida que o desvendo, ele se torna mais inacessível a mim. Essa emoção estrangeira fez de tal forma morada nos meus dias que me pego ruminando-a, conhecendo-a, adorando-a, e, por fim, negando-a. Sim, viro o meu rosto a ela. Não acho que preciso de sentimentos. E de dissimulação em dissimulação, entre o que eu tenho e o que lhe sobra vamos construindo nosso muro, cercando-nos não só um do outro, mas de nós próprios, porque o ‘conhecer o outro’ é se conhecer, quanto mais nos damos mais teremos oportunidade de receber.
Ecos de sonhos que jamais acontecerão passam por minhas horas. Alguns são teimosos e sempre retornam, como tendo prazer em ver esperanças dançando nas minhas feições, outras como pequenas efêmeras voam loucamente ao meu redor, parecendo saber ter só um dia, uma hora de vida, em suma, morrerão logo.
Mas eu ainda não consigo resistir à tua presença, aos teus pensamentos. O momento de te ver são os mais prazerosos e dilaceradores do meu dia. Um entendimento tão grande sem palavras, não porque eu não saiba o que falar, mas porque não foram ainda criadas palavras capazes de atribuir significado ao que me passa no íntimo.
Completamo-nos para no dia seguinte fugirmos apressados um do outro, tímidos da nossa entrega. Tolos, não conseguimos ir muito longe, eu sempre paro e puxo o fio invisível da loucura que nos une. Como fazer para mudar o que fiz para o que quisera ter feito?
Os meus sentimentos dantes sempre foram rápidos e violentos, ondas do mar que no destruir trás mudança, salvação das almas melancólicas. O que sinto hoje é lava ardente, inevitável, que queima lentamente, mas marca para sempre a paisagem pela qual passa.
Anos e anos se passaram e teu encanto ainda é latente, inebria-me. Embriaga-me.
Assim é que seja.