das feições das minhas saudades



Eu queria ser imune à saudade. Eu não quero mais senti-la. Se preciso for renunciar a várias vivências, aceito a conseqüência. Tem sido assim minha vida inteira: se algo me desperta interesse, é tirado de mim rápido demais. O grau de interesse é inversamente proporcional ao tempo que a vida me cede com o alvo das minhas saudades.
Tantas vezes fingi não ver as pessoas especiais que tropeçavam no meu caminho, só pra depois não ter que lidar com este sentimento.
Mas às vezes eu não consigo resistir.
Outro dia estava eu tranqüila e sorridente sentada numa mesa de bar quando um par de olhos castanhos me incendiou a alma. Eu tentei voltar minha atenção para o sorriso lindo da amiga à minha frente, ou para qualquer outra pessoa que me interessasse menos que aqueles olhos devoradores. Mas a minha curiosidade sempre me vence.
Permiti-me viver.
Encontros apressados na beira mar, mãos quentes procurando as minhas. Olhos atentos sempre fazendo o meu olhar procurar o chão. Noites tão longas e tão curtas.
Não poderia ser diferente, o meu tempo acabou rápido demais.
Hoje a minha saudade tem feições fortes, olhos que descobrem o que não quero mostrar e cabelos escuros que ao sol torna-se de uma cor que não sei explicar, tal qual o que estou sentindo agora.
Mas que direito tenho eu de sentir saudades? O que é a saudade perante toda uma vida para a qual temos que voltar? Como posso eu competir com o que poderia ter sido, com o que nunca serei?
O que me resta é esperar que a ausência do calor de um corpo que não está mais aqui passe por mim como o próprio corpo já passou.
Roza Larissa