Intervalo amoroso


- Eu te amo tanto sabia?
- Tu me ama? – surpreendo-me.
- Amo sim...
- Tu nunca fala. Obrigada por dizer. Meu coração ficou quentinho.
- Tu me fez sorrir agora, um sorriso daqueles!
- Eu quase vi!

Simples e suave coisa...? Suave coisa nenhuma.



"Devagar, minha criança louca
Você é tão ambiciosa para uma jovem
Mas então se você é tão esperta, me diga porque você ainda tem medo?
Onde está o fogo? pra que é a pressa?
É melhor você aproveitar isso antes que você perca
Você tem muito o que fazer e poucas horas num dia

Devagar, você está indo bem
Você não pode ser tudo que você quer ser antes do seu tempo
Você está tão adiante de si mesmo que você esqueceu o que você precisa

Você tem sua paixão, você tem seu orgulho
Mas você não sabe que apenas idiotas ficam satisfeitos?
Sonhe, mas não imagine que eles todos se realizarão
Quando você perceberá que eu estou aqui por você?

Devagar, minha criança louca
Tire o telefone do gancho e desapareça por um instante
Está tudo bem você pode permitir-se de perder um dia ou dois
Quando você perceberá que eu sempre estarei aqui por você?"


Te amo, Valzinha.

Poema para um poema


Que vontade de você.
De deslizar os dedos pelos fios dourados de seu cabelo, tão lindos quanto o sol.
Mas se fosse pra me aquecer, queria que fosse com o seu calor.

Que vontade de você.
De contemplar seus olhos claros tão lindos quanto o mar.
Mas se fosse pra me molhar, teria que ser com o seu suor.

Que vontade de você.
Sussurrando ao meu ouvido.
E se fosse ouvir uma música, teria que ser cantada por ti.

Que vontade de você.
De beijar seus lábios macios.
E se fosse sentir um gosto doce, teria que ser o gosto da sua saliva.

Que vontade de sentir o seu cheiro de fêmea e fazer de seu corpo um quebra-cabeças pra te dar prazer.

Queria que deixasse suas marcas em mim.
A mordida, o batom, o perfume.
Pra quando ficar sozinho, sentir muito mais vontade de você.


(por Leo Ternes, para Roza)

Dos sentimentos desabrigados


Hoje, já não tenho mais o azul exuberante dos teus olhos a guiar os meus, tochas acesas na escuridão que eram meus dias. O teu sorriso tão doce e tão decidido já não dança mais nos teus lábios pálidos. Eu sinto falta da tua voz também, das nossas rotinas bobas, dos nossos sentimentos escondidos e dos nossos pudores absurdos, partilhados sem palavras.
Desde aquele dia cinza não tem nada que eu deseje mais do que não sentir. Não sentir essa presença latente de algo que não está mais lá, membro amputado que vive a me enganar.  Não sentir mais o desespero que me toma sempre que me dou conta do quão definitiva é a morte, prisão perpétua  a enclausurar meus sorrisos.
Não foi só o perfume que a tua amiga usava, e que antes eu e tu adorávamos que aboli da minha vida aquela noite. Abandonei tantas coisas... Nossos planos foram relutantemente deixados para trás; meus sonhos tolos de menina atirei todos na face daquele por quem tu tanto clamou.
Tenho quisto perder. Tenho acalentado minhas dores. Meus amores andam perdidos por aí, sem pátria, exilados de ti. Os portões de minha alma foram selados para sempre de certos sentimentos que não me julgo mais merecedora de sentir, não se tu também não os pode vivenciar.
Fui privada de ti e me privei dos meus. Não suporto mais ver a esperança do que acreditam  que me tornarei nos olhos dos que me conhecem. Não me tornarei nada, não entendem? Tornarei-me matéria seca e sem vida, como todos. Não quero viver, quero que passem os dias, quero que voem as horas, quero que o tempo se baste de mim e me dê descanso. 
Afinal, se for necessário sentir tudo isso para que tua memória não se esvaia, pelo tempo que o ar insistir em vir corpo adentro, sentirei com prazer tudo que me foi imposto sentir pela tua ausência.

“Laissez, laissez mon coeur s'enivrer d'un mensonge,
Plonger dans vos beaux yeux comme dans un beau songe,
Et sommeiller longtemps à l'ombre de vos cils!”
(Baudelaire)

Roza Larissa

de dois que se transformaram em um


Ver o teu queixo tremer de emoção com o que eu te escrevi.
Olhar nos teus olhos, que escapam dos meus.
O que você teme em mim?
Seria a juventude que hoje me sorri e que te fugiu?
Ela me fugirá também, e sorrirá para outros...
Seria a doce irresponsabilidade que me cerca e da qual você abriu mão?
Também eu terei que abrir mão dela.
Jovens, velhos, somos todos da mesma idade.
Felizes e infelizes, todos  enganamos a nós mesmo.

Não culpe a mim nem a si pelo que perdemos.
Sim, pois também eu perdi.
Perdi os teus sorrisos, perdi a tua alegria de viver.
A tua felicidade por mais deturpada que fosse me alimentava a alma.
Não quero a responsabilidade de ser eu a que é feliz.

Esperemos o tempo passar; suportar é tudo.
E quanto mais acumularmos, mais perderemos.
Quanto mais intensamente vivamos, mais difícil será abrir mão da vida.
Levemos conosco só o que se pode carregar nas mãos e no peito,
O mais é nada. É fardo a se carregar e a se perder mais tarde.

Colhe as alegrias que a vida te oferta.
Ame-as e admire-as enquanto elas dançam na tua alma,
Pois, tal quais as flores daquele jardim, elas perderão o odor,
Tal qual a vida em si, elas perderão o encanto.
E como nós próprios, afinal, essas alegrias murcharão,
Serão esquecidas e deixarão de existir.

intervalo consciente


Tarde em casa. Eu e Luis sentados, fazendo o que mais gostamos de fazer, Val chega do trabalho, joga a bolsa no chão e exclama:

- Cara, tô me sentindo tão fora do tempo!!! Hoje lá no escritório eu descobri que o Espanta morreu há tempos...

- O Espanta morreu?! - pergunto, alienada.

- Quem é Espanta? - Luis, relaxadíssimo.


[ sim, somos autistas por opção ] 



Roza

intromições



Às vezes o destino entra nos meus pensamentos para não mais sair. Ele me bombardeia com flashes das coisas que podem acontecer.
Podem acontecer sim, pois eu sei ter plantado as sementes há muito. É como se, em cada escolha que eu faça, eu possa ver o que vai acontecer muitos anos à frente, resultando de cada pequenina decisão.
Sempre que eu posso suportar eu faço a escolha correta. As pessoas, elas não entendem as minhas decisões, nem eu tenho energia, sequer paciência, para explicar.
Eu vou vivendo por caminhos incertos, me afastando de quem deveria me aproximar e deixando fazer parte dos meus dias quem nada é para mim.
Mas eu posso ver... Eu posso ver que da mesma forma que para eu dizer “Olá” no futuro eu devo dizer “Adeus” hoje, eu deixo o nada entrar na minha vida para que ele possa vir a ser tudo.
Às vezes o medo de nunca mais reencontrar uma coisa ou pessoa para a qual eu disse adeus me toma, mas eu tento me conformar com a idéia de que todos nós passamos, afinal; causa menos danos à alma você estar consciente da despedida do que ter algo arrancado de si, num adeus mudo e definitivo.
Conformemo-nos e saibamos que mesmo plantando sementes disto ou daquilo, nunca se pode ter a certeza do que se colherá. O mundo, a vida, o futuro são incertos e tendem a mudar com quase a mesma rapidez que meus sentimentos. Quase.

Roza

de tudo que eu te queria dar


As minhas palavras não bastam. Eu queria te dar mais. Eu queria te restituir o viço da pele, o brilho do olhar. Eu queria te fazer voltar a gargalhar como antes. Te fazer ser aquela mulher segura outra vez. Sim, aquela, eu sei que você lembra. Aquela mulher que massageava a ruga que morava entre minhas sobrancelhas e me dizia no ouvido que ia cuidar de tudo.
Eu queria escolher um amor bom pra ti. Um amor que não te machucasse, que cuidasse e te amasse. Não precisava durar a vida inteira, bastava te fazer feliz por um verão. Mas as minhas palavras, elas não bastam. Elas não curvam o tempo.
Eu odeio o tempo. Odeio tudo que ele nos rouba. Tudo que ele roubou de ti, meu amor. E ele, tal qual abismo sem fim, hoje te rouba o fiapo daquilo que te é especial. Mas eu vou estar contigo. Eu vou te afagar a cabeça, não tenha medo.  Eu te amo.
Eu te olho nos olhos hoje, com o coração partido, e vejo a fome que há neles. Fome de tempo.
Eu também queria voltar no tempo contigo, pra mudar tudo aquilo que não deveria ter sido. E pra te fazer ver as escolhas certas, pra te apontar a direção, pra te puxar comigo por um caminho diferente. Eu poderia ter feito tanta coisa, mas eu não sabia ainda.
Não se culpe. Tente sorrir apesar de tudo. Afinal todos nós somos vítimas de nós mesmos. Vítimas da impossibilidade de darmos ao nosso corpo outra direção, de saber em que porta entrar. Não se culpe, derrame algumas lágrimas salgadas e pense que afinal tudo passa. Sim, tudo é alheio a nós e tudo passa.
Não chore pelo que já passou. O passado está morto. O que está para acontecer também já é passado. Esqueça. Perca-se em mim e comigo (perder-se é encontrar-se). Deixe o esquecimento te banhar. Sou tua mãe, não só tua filha. E eu estou aqui contigo.

das minhas abstinências


Outro dia, um moço dos olhos d’água veio me falar de como acreditava que todos os papéis importantes da minha vida pareciam estar ocupados. Mas eu não tenho um loteamento dentro de mim, muito menos espaços premeditados.
As pessoas simplesmente chegam e criam seu próprio espaço. Eu sou mata virgem e tenho meu coração e meus sentidos abertos para a grande novidade que cada um pode ser. As pessoas vêm e fincam suas estacas no meu peito, criam sua história, constroem em mim seus desejos e fazem dos seus, meus sonhos.
Algumas pessoas podem despertar tantos sentimentos. Bons, maus, inesquecíveis, risíveis, mas todos com seu grau de loucura e preciosidade. Eu amaria as pessoas se não as repelisse tanto. Algumas me despertam tanto interesse! Mas com a maioria sinto apenas um ante-cansaço  de saber que não vou encontrar ali nada de novo, nada que me surpreenda.
Ademais me abstenho do mundo. Deixo o mundo chegar a mim da maneira que ele desejar. Tento não me aprofundar demais, tento fechar os olhos, tento ser o oposto absoluto de todos, tento ser o não sei.
Depois de tanto pensar, tanto sentir sem sequer tocar na vida, fecho, cansada, as janelas do meu coração. Excluo o mundo e todos e por um momento me dispo de mim. Amanhã voltarei a ser eu. Deixem-me ser o nada hoje. 
Roza

no tempo em que festejavam o dia dos meus anos


"No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto...
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,

O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),

O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada...
Mais nada!"
(Álvaro de Campos)



e por falar em saudades....




ROSCA, 

Eu queria te dar o melhor presente do mundo!
Aquele vestido lindo, da loja mais chic lá  do shopping, que quando olhei, vi você dentro dele.
Aquela sandália e bolsa da arezzo que iam combinar perfeitinho com o vestido e as maquiagens mais perfeitas que deixam nossa pele igualzinha como fica quando a gente passa o blur.
Queria poder trazer pra perto de ti todos os teus amigos, aqueles com quem você passou momentos inesquecíveis e que você  sente tanta saudade.
Queria poder te dar uma passagem Brasil - Suécia - Brasil ou então uma Suécia - Brasil - sem volta pra ele.
Eu queria poder te dar um aniversário perfeito, tipo aqueles "dia de princesa" e que tivesse a festa mais bonita e que TODO mundo estivesse junto.
Eu queria que você fosse a pessoa mais feliz do mundo, com uma casa linda, um marido perfeito, filhos e uma profissão que te realizasse  e ganhasse 50 mil por mês.
Se eu pudesse escolher como seria teu futuro...
Mas, no momento, eu só posso te dar um livro, embora quisesse te dar a biblioteca inteira.
Eu te acho perfeita. Às vezes, eu queria ser como tu.
Não precisa de roupas caras, nem sapatos e bolsas da moda, nem de maquiagem que tente esconder os teus defeitos, que até  isso eu acho lindo.
Eu encho o peito pra dizer pra todo mundo que você  é minha irmã e se eu pudesse dizer pra eles o quão perfeita você é, eu começaria falando do teu coração.
Eu tenho o maior orgulho de você.
Eu me sinto um pouco frustrada agora, por não poder te dar tudo o que eu queria, eu até nem sei como me expressar pra dizer o quanto eu amo você, o quanto tu é indispensável pra mim e eu nem sei o porquê...
Hoje, você faz 18 anos e eu me assusto. Passa um filme na minha cabeça, relembro todos os momentos. Muitos momentos, poucos momentos, momentos eternos.

Eu quero ficar do teu lado pra sempre.


                                                                                                                                                                                   SUZANA
15/07/2006



Meu amor, em nome de todos os teus irmãos,
saiba que te amaremos eternamente.
Vivo em função das nossas lembranças.
No desejo permanente de te ver,
te abraçar, ouvir tua risada gostosa novamente.
Tudo que eu aprendi contigo não foi em vão.
O vazio que deixaste nunca será preenchido.
Tu foi a pessoa mais linda que já conheci.
Perdão por não ter cumprido a promessa que tantas
vezes te fiz quando, em aflição, tu me fez jurar
que não te deixaria morrer. Perdão. Perdão. Perdão.
Obrigada pelos melhores momentos da minha vida.
Pelo amor e amizade que sempre me deste.
Pela paz que tantas vezes tu plantou em meu coração.
Agora é a tua vez, paz meu amor.
Te amo, Florzinha de Maracujá.






Roza,


10/08/2007





(E a saudade me castiga e me castiga...)






"...eu quero é tua boca endiabrada na minha.

 o resto...

 que se dane!"

das feições das minhas saudades



Eu queria ser imune à saudade. Eu não quero mais senti-la. Se preciso for renunciar a várias vivências, aceito a conseqüência. Tem sido assim minha vida inteira: se algo me desperta interesse, é tirado de mim rápido demais. O grau de interesse é inversamente proporcional ao tempo que a vida me cede com o alvo das minhas saudades.
Tantas vezes fingi não ver as pessoas especiais que tropeçavam no meu caminho, só pra depois não ter que lidar com este sentimento.
Mas às vezes eu não consigo resistir.
Outro dia estava eu tranqüila e sorridente sentada numa mesa de bar quando um par de olhos castanhos me incendiou a alma. Eu tentei voltar minha atenção para o sorriso lindo da amiga à minha frente, ou para qualquer outra pessoa que me interessasse menos que aqueles olhos devoradores. Mas a minha curiosidade sempre me vence.
Permiti-me viver.
Encontros apressados na beira mar, mãos quentes procurando as minhas. Olhos atentos sempre fazendo o meu olhar procurar o chão. Noites tão longas e tão curtas.
Não poderia ser diferente, o meu tempo acabou rápido demais.
Hoje a minha saudade tem feições fortes, olhos que descobrem o que não quero mostrar e cabelos escuros que ao sol torna-se de uma cor que não sei explicar, tal qual o que estou sentindo agora.
Mas que direito tenho eu de sentir saudades? O que é a saudade perante toda uma vida para a qual temos que voltar? Como posso eu competir com o que poderia ter sido, com o que nunca serei?
O que me resta é esperar que a ausência do calor de um corpo que não está mais aqui passe por mim como o próprio corpo já passou.
Roza Larissa

Das palavras guardadas, ansiosas por falar



Eu queria. Olhar-te nos olhos uma última vez, como eu queria. Segurar assim no teu queixo delicado e olhar bem dentro daqueles profundos olhos azuis e te dizer o quanto eu te amo, o quanto este amor nunca, nunca, vai acabar.
Depois eu queria sentar contigo no chão gramado e, de cabeça baixa e pedaços de grama entre os dedos, te falar de tudo que tem acontecido nesses três anos. Tantas batalhas internas, eu brigando loucamente comigo mesma. Eu ia te falar também de como eu tenho sido fraca, tentando não pensar em ti, tentando não planejar o amanhã.
Eu queria te contar de como eu pego minha dor com as mãos, brinco e me rio dela e depois (quando ninguém está olhando), eu a guardo com todo o cuidado no fundo do meu peito, onde eu acho que ela deve permanecer para sempre.
Eu ainda queria te mostrar tudo que eu já vivi, o quanto eu deixei de ser aquela garotinha que tu tinhas que dar sermão. Queria que você experimentasse ouvir Svefn-G-Englar comigo, deitadas no sofá, uma com cada fone, eu queria tanto ver os teus olhos brilhando ao perceber que acabara de conhecer uma música tão linda e diferente.
Eu queria rir daquela tua dancinha linda. Fazer cócegas em ti e por entre nossos risos te perguntar por que os meus dias são tão cinzas sem ti; Por que tu, dentre todas as pessoas, teve que partir.
Eu olho em volta, sentimentos e pessoas vão desmoronando; casas são pintadas de cores engraçadas; fotos outrora tão importantes hoje vejo teus amigos descartarem; teus antigos amores, com roupas novas, saem para te esquecer. Tudo vai mudando como se o mundo precisasse fingir que você não existiu e dentro de mim só a tua morte jaz erguida, sentimento constante e permanente.
O que eu não daria para ver, uma única vez mais, uma janelinha azul claro avisando: “Sú acabou de entrar.”

das vontades do meu coração



Eu só quero a responsabilidade do primeiro beijo. Depois disso nada sei. Não me peça garantias, não posso dizer se vou até o fim, se vou parar antes do imaginado. Eu não sei. Sou imprevisível. Faz parte de mim, odiar paradigmas.
Já tentei fazer o planejado, responsabilidades e promessas jogadas na face, mas essa vida de vírgula em lugares corretos me farta.
Sempre faço as vontades do meu coração. Não sei se o trato como uma criancinha doente, mimando-o, ou se dou logo o que ele quer para que ele se acalme e volte para a sua letargia natural, fatigado de mais um final brusco.
Tudo é gostar, é satisfação, é encontrar no outro o que amamos e falta em nós mesmos. Então por que se preocupar por quanto tempo isso nos bastará?
A única coisa que tento pensar é: “Porque não? Talvez seja bom. Talvez eu até queira repetir.” Quase sempre o desinteresse me toma. Mas o meu desinteresse não vem de dentro de mim.
Ah... Mas quando é bom... Quando existe o querer mais... A sensação do prazer já sentido a se repetir, quando você já conhece de tal forma as nuances desse prazer ao ponto de saber todas as direções que ele há de tomar, olhos abertos no momento certo, pontas de dedos afagando pele macia... Aceito a dádiva. Por menor que seja o sentir, em todas as suas formas, é verdadeiro. Fecho os olhos, é o bastante.


poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.



Os versos acima, escritos com o heterônimo de Álvaro de Campos, foram extraídos do livro "Fernando Pessoa - Obra Poética", Cia. José Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 418.

borboletas no vidro

E dizem que a vida continua
Como as horas passam
Os relógios atrasam
Como a nuvem flutua

Borboleta no vidro
Deixe-a ir pro claro
Pro ar mais raro
Num longo suspiro

E dizem que a vida é breve
Como o tempo errado
Como dia nublado
A história que se escreve

Apressada como um raio
Noiva no mês de maio
A vejo correr pela casa
Folia de juventude em brasa

E poderia até ver seu futuro
Os filhos que teria
Roseiras ao pé do muro
Suzaninhas com medo do escuro

E eu nem a pude conhecer
Nem segurar sua mão na hora cinza
No azul do olhar, do mar e a brisa

Nem saber o que se passava
Nem passar por ela
Nesse abismo que o coração
Deprime ao chão e eleva em asas

E agora me olhas lá de cima
Sorriso em alvoroço
Beijos dobrando a esquina

E agora a minha lembrança guarda
Em minha memória vive
Suzaninhas correndo pela casa
Livre, livre!

Para um brincalhão raio de luz que me tocou de leve a testa e me deixou uma Roza com z de lembrança.
(Pedro)



Poesia mais linda que Predo escreveu pra minha flor de maracujá.




La Redécouverte


É incrível como em uma noite escura em que não consigo ver amanhãs possíveis, uma melodia possa inundar tão plenamente de esperança minha alma.
Ela, a melodia, vai dançando no meu peito fazendo das minhas veias cordas encantadas que, ao serem dedilhadas, murmuram de amores que se tornam possíveis, preocupações seladas, cabeças afagadas, noites brancas...

De repente a antes doce melodia se revolta e vem vestida de negro e coque no alto da cabeça, trás consigo um arco e tira de minhas cordas sons agudos e hipnotizantes. Minhas noites brancas tornam-se vermelhas e deixo-me seduzir pelo tango, que me embala, dança comigo e grita de fogos que nunca se apagam, me mente tão inocentemente...

Veja você, depois disso tudo vivido, sentido, apreciado, ela, a melodia, vem me cantar de conformidades e de destinos inexoráveis... Canta de batidinhas nas costas e de que a vida vai acostumar. Mas como poderia eu, de peito fragilizado de tanta vivência, não aceitar o som que me conforta, me põe no colo e me nina, me deixa as mãos em conchas e lençóis entre as pernas e me sussurra docemente uma canção que só fala de adormecer e não mais levantar...

Lárálalala

dos que foram especiais e sempre o voltam a ser



Eu procuro as pessoas. Não tenho escrúpulo nenhum de pensar que posso incomodar, mas quando a saudade vem dobrando a esquina, espiando pra ver se estou em casa, fujo apressada pela porta traseira e vou atrás do que ela quer assim ela nem me atormenta.
Mas hoje reparei que há algumas pessoas a quem eu procuro e de quem eu me perco constantemente.
Tem uma menina que desde 2004 ilumina os meus dias. Ela vai e volta, ama e desama, está e não está ao meu alcance, mas ela nunca me sai dos pensamentos. Já vivemos tantas coisas. Ela já me ajudou tanto, já brigou comigo, já foi legal, já foi chata, já me salvou de mim mesma. Eu estava triste num dia ensolarado e cheio de pessoas a sorrir e a cantar, quando ela apareceu na minha vida e pediu pra fazer morada permanente nos meus dias, eu, que nem sou boba nem nada, a puxei pra minha vida antes que ela mudasse de idéia. Desde então foram tantos passeios pela beira-mar, tantos amores vividos, tantas viagens sem destino... Ela me ama e eu a amo. E ela tem uma voz tão doce...
E tem um garotinho que eu encontrei por acaso numa tarde ensolarada no meio de uma rua enlameada em 2002, porque minha amiga pensou que ele fosse o irmão dele. A blusa listrada preta e branca que ele usava ainda está guardada no meu olhar. Ele está sempre indo e voltando dos meus dias. E é tão bom reencontrar.
Tem também um moço todo especial e de nariz empinado, pregando poder controlar tudo: desde o seu cachorro ao mais sutil sentimento, mas que, na verdade, tem dentro de si um garoto de 16 anos todo assustado e de cantos de boca para baixo. Estávamos eu e aquela garotinha da voz doce perdidas numa rua de pedras engraçadas quando nossos destinos se cruzaram com o garoto de nariz empinado, foi no belo 2006, o ano antes. Um ano tão doce e apaixonado, como se fosse a ceia antes da sentença... Esse moço de nariz a fitar o céu é todo lindo e todo perfeição. Ele é um sonho. E eu sempre que posso o resgato para os meus dias. Acalentadores dias...
E há ele. O que está tão longe e tão próximo de mim. Frágeis muros de vento, fronteiras, a nos separar. Conversas salvas, afagos prometidos e um ou outro DDD me provam que ele é real e que eu ainda estou sã. Hoje mesmo ele salvou meu dia, que tinha tudo pra ser a sexta-feira mais cinza do mês. Ele entrou no meu coração já empoeirado e passou a tarde toda comigo. Infelizmente às 17:49 ele teve que fugir apressado e pediu pra eu guardar a felicidade dele no mesmo lugar que eu ia deixar a minha. Ele ainda não sabe, mas eu não planejo devolver, a não ser que ele volte pra buscar. Mas ele vem. Eu me enamorei pela alma desse menino desde que eu vi um /infloenzae no mundo dos fotolog’s, em 2004, e desde então ele sempre aparece pra me iluminar os olhos e deixar minhas vontades com água na boca. E mesmo com essas visitas meus dias são cheios de saudades ao avesso. Saudades do que não foi. Do que ainda nem perdi. Do que não é meu.
Roza Larissa
06/02/2010