Iggy Pop, Preliminaires



Quando, em meados de 2010 (um ano depois do lançamento), meu amigo Baccach entrou no escritório com aquele jeitão Kramer de entrar na casa do Seinfeld dizendo que Iggy Pop tinha lançado um disco cantando músicas em francês deu um curto na minha cabeça. Peraí, o eterno cachorrão louco do punk rock cantando coisas fofas em francês? Ahn? Cuma?

Não me fiz de rogada. Fucei, catei, farejei, achei e baixei. Deus do céu. Orgasmos auditivos. É isso que você sente quando escuta Les Feuilles Mortes pela primeira vez. Você não quer parar de escutar. Acho que fiquei um ano só nessa faixa. As outras vieram depois, só para completar o quadro.

Não é um disco fofo. Não é um disco punk. É lúgubre, é lindo, é doloroso, como tudo que é apaixonante. A maior parte das músicas fala de morte e/ou coisas ligadas à morte.
O disco foi inspirado no livro La Possibilité d’une ilê, do escritor francês Michel Houellebecq.

Palavras de Iggy Dog Pop:

"Ele [o livro] fala sobre morte, sexo, o fim da raça humana e também sobre outras coisas bastante engraçadas (...). Li o livro de forma verdadeiramente prazerosa, assim que ele foi lançado, e, na minha cabeça, estava compondo as músicas que seriam a trilha sonora da minha alma ao ler aquela história"


Resenha das músicas:


Les Feuilles Mortes Ah, a morte do amor.. Um amor que preenchia todo nosso ser e de repente...: "Mais la vie separe ceux qui s'aiment / Tout doucement, sans faire de bruit / Et la mer efface sur le sable /Les pas des amants desunis". (Mas a vida separa aqueles que amam /Lentamente, silenciosamente /E o mar apaga na areia / Os passos dos amantes distantes...)

I Want To Go To The Beach Claramente fala de alguém com uma puta depressão que quer se esconder no cu fim do mundo. A dor filha da puta que veio pra ficar declarada nos versos: "Particles of pain in my brain, I guess they're here to stay..." Morte do amor? Morte do ser amado? Morte da própria alma?

King Of The Dogs E no meio de tanta morte, de tanta sujeira sobrevive quem se adapta e defende o que é seu!

Je Sais Que Tu Sais O que nós levamos dessa vida? Só sensações nossas? Do que fala a música? Prazer? Fuga? No fundo dá no mesmo.

Spanish Coast É hipnótica. Linda. Triste. Singela. Mais morte, pra variar. "Die like a fly
With no lover to sigh"
Nice To Be Dead E ele volta a mostrar um pouco do velho Iggy.  Levante sua anca e balance babe cause "it's nice to be dead".

How Insensitive Ah, acabar com as esperanças de um ser que já foi amado... Quem não teve sua vez de ser vaca, digo, insensivel? Iggy consegue deixar a música mais dolorida que o nosso Maestro Jobim. Linda interpretação. 
"How insensitive I must have seemed
When you told me that you loved me
How unmoved and cold I must have seemed
When you told me so sincerely"
Deus perdoe minhas insensibilidades...

Party Time A vida fede. As pessoas conseguem se tornar pior do que já são por natureza,  "It's party time and I smell slime. You stupid people make me evil." 

"Here's a brute, isn't he cute?
He needs a hole to bury his soul in"
He's Dead She's Alive Sério? Eu não vou comentar isso. Simples. A vida continua... Iggy improvisa na música, voz e violão meio trash, mas ele pode tudo! 

A Machine For Loving Lindo. A morte de um cão de modo hipnótico (to me repetindo eu sei), e poético. Pra quem lembra The Gift do Velvet tem uma amostra parecida, mas o Iggy não ousa tanto quanto o VU.
"What is a dog but a machine for loving
You introduce him to a human being giving him the mission to love
And however ugly, perverse, deformed or stupid this human being might be
The dog loves him, the dog loves him"


 A música acaba e deixa a impressão de que os cães são melhores que a gente. (Por que não?)


And that's it. Depois mais duas faixas, remakes do Je Sais Que Tu Sais e Les Feuilles Mortes.


Download do CD AQUI. 

Hambúrguer caseiro

Humrum, porque não basta alimentar o espírito com boa música e poesia, o buxo, estombo não pode ficar vazio. Já dizia minha vó (e a de todo mundo), "saco vazio não para em pé".


1. Compre meio quilo de contra-filé, mande limpar impecavelmente e moer. Se o açougueiro estranhar mande ele se foder. Esses caras acham que pra moer tem que ser patinho, carne idiota e sem gosto. Depois de limpo sobram uns 350 gramas, tudo bem, foda-se.

2. Pique cebola, pepino azedo, azeitona, alcaporras, digo, parras e misture tudo com a carne.

3. Tempere com sal, pimenta-do-reino, páprica doce, páprica picante, vinagre de maçã, molho inglês. Sua mão determina as quantidades, igual no ítem 2.

4. Faça uma bola com a carne e amasse pra dar liga, misturar toda a tralha, e passar uma energia boa para a carne. Feche os olhos e mande vibrações hiperbáricas para o boizinho que está lá no céu fodendo uma vaquinha.

5. Falando sério, amasse a bola de carne e transforme-a num hambúrguer.

6. Abra um buraco em cima e encha de mussarela picada.

7. Tampe o buraco muito bem, conserte as rachaduras das bordas e está pronto.

8. Ponha na frigideira com azeite quente. Vire só uma vez.

9. Vai bem no pão ou com rois. 


Post surrupiado, roubado, copiado do Catarro Verde.

O Micróbio do Samba, Adriana Calcanhotto


A pedido de uma pessoinha muito especial (taqui, Fá!), mais um post da série "No momento estou ouvindo...".

Diz-se que o micróbio do samba contagiou a multifacetária Calcanhotto. Ela diz que o samba sempre esteve nas raízes de sua música, implícita ou explicitamente, mas que nesse disco, não teve samba, digo, jeito: pra onde ela corria o samba estava lá a corroer, a cutucar, a balançar... E é isso que esse disco nos faz. Você ser humano normal ou não, não conseguirá ouvir esse disco só uma vez. É impossível. Como é bem dito na faixa 2: "aquele plano para me esquecer.... esqueça!".

O disco é delicioso do ínicio ao fim. Resuminho das canções:


1. Eu vivo a sorrir não porque estou feliz, mas "pro caso de você virar a esquina e adentrar a livraria, pro caso de o acaso estar num bom dia...". Sim, é um doce fingimento. Seja para não dar o gostinho de alguém a ver triste, seja por esperar tanto encontrar novamente o ser querido. Quem nunca fez? Quem nunca fingiu sorrisos por aí só no pensamento de estar sendo observada? (Oh Deus, sou a única louca?). Oh fins de relacionamentos...


2. Aquele plano para me esquecer "E aquele amor aonde quer que esteja, se bulir, vai ver 'inda lateja e se no fim, no fundo, permaneça aquele plano para me esquecer...Esqueça!" Não tem mais conversê! A música já diz tudo! Você, caro ex, não vai conseguir esquecer.


3. Pode se remoer é a música que a gente faz questão de postar no face, twitter ou qualquer meio onde aquele filho da p.. safado do seu ex (que fudeu com sua vida) possa ver e, bem, "se remoer".

"Pode se remoer
Se penitenciar
Eu encontrei alguém
Que só quer me beijar"


4. Mais perfumado Ah, homens, caros homens... Escutem essa música e aprendam. Nós não acreditamos em vocês, nos simplesmente amamos e bem, temos um pouco de dó porque vocês são o sexo frágil... Ops, falei demais? 
 "Ele acredita que me engano
Pensa que sabe mentir o homem que eu amo"


5. Beijo sem Dor de cotovelo feelings. Sim. Esse CD é exatamente o que você está pensando. Compre e dê de presente (indireta mode ON) ao seu ex que você ainda não esqueceu, mas finge bem que sim, indo à Lapa, beijando bem, curtindo a madrugada, sorrindo feito doida por ai...

6. Já reparô? Né? A essa altura sim, só faltava falar da megera, da nova namorada... Mas ah, não se preocupe porque: "...ela não samba.. Ai, ela não quebra, ela não balança. Ela não judia!" Não, essa aqui eu mesma vou mandar para uma pessoa acolá...

7. Vai saber Esse disco é a verdadeira história de um relacionamento! Chegamos aqui na fase da revolta. Como esse cara não me quer? "Só porque disse que de mim não pode gostar, não quer dizer que não tenha do que duvidar. Pensando bem pode mesmo chegar a se arrepender e pode ser então que seja tarde demais...Vai saber?" Acaba no conformismo relutante do "Vai saber..."

8. Vem ver como toda boa história de amor, chega o momento do "vem cá"... Sim, porque às vezes a gente pede arrego. Quer mais sofrer não, então declara: "Vestido de advogado, de garçom, de jogador
De dia fiel escravo, à noite seu predador Vem cá, Iaiá Vem ver."

9. Tão Chic "tão cheia de si.. tão triste, me ouça: a vida voa baixinho, cê vai ver, já é...", é parece que não teve jeito de voltar e a moça foi curtir o carnaval triste e cheia de si querendo amor eterno até a quarta feira... Essa é a música mais melancólica do cd, mas ao mesmo tempo é a que mais me enche de esperança. 

10. Deixa gueixa E o carnaval continua! Passamos da mais melancólica à mais alegrinha. Muito fofa. 

11. Você disse não lembrar E depois do carnaval vem a calmaria.... Será que vai dar pé? Será que o querido volta? "Se eu escolho acreditar eu me firo de morrer...". Tudo embalado por um sambinha delicioso.

12. Tá na minha hora ...porque tudo acaba né? Chega. Tá na minha hora mostra que o chororô passou, ela fez tudo que podia agora foda-se. 

"Agora tá na minha hora
Eu vou passar uns tempos em mangueira
Não chora, neguinho, não chora
O meu coração é da estação primeira
Te deixo a geladeira cheia e sem promessa
Que findo o carnaval eu tô de volta"
 
Baixe o CD AQUI.
 
Confira a entrevista da Calcanhotto AQUI.
 
Bye. 

Belle & Sebastian - para iniciantes


Vou começar um novo tópico "no momento estou ouvindo...", e como quase sempre estou ouvindo essa bandinha escocesa, nada melhor que começar por ela.

Eu tenho um problema muito sério com novas bandas. Sou ficcionada nas bandas que já conheço - e a fundo, então me perco ao tentar escutar algo novo. O principal motivo é "Por onde começar a ouvir?". Para começar a ouvir uma banda é bom se inteirar quanto a história da mesma, então, ao invés de postar meras outras resenhas no tópico de recomendações resolvi compartilhar este que é um tutorial e tanto para novos ouvintes de B&S. Quem é quem? Quem faz o quê? Por que disco começar? Onde encontra-los? Essas super-informações relevantes e cheias de suingue para novos ouvintes. Então, vamos encerrar esse parágrafo de enrolação e passar pra atividade:

Onde começou?
B&S é uma banda escocesa, formada em Glasgow, Escócia, em Janeiro de 1996. Stuart Murdoch e Stuart David se encontraram nos bares da vida e cataram alguns músicos e formaram o B&S. Em uma semana eles gravaram um disco, o Tigermilk, na gravadora da faculdade que permitia que isso fosse feito de graça e que se prensassem cerca de 1.000 cópias em vinil. Não era pra ser uma banda séria, tanto que no começo todo mundo mantia seu emprego fora da banda e tudo mais. Os vinis não chegaram a ser vendidos com entusiasmo, mas foram distribuidos para os amigos (hoje chegam a ser vendidos por centenas de libras em leilões). Como chegaram as mãos de um DJ local, caiu na internet, começou a fazer sucesso e o escambau. No começo os caras apareciam SEMPRE disfarçados em fotos ou tiravam fotos de amigos e fingiam que eram eles. 

Que música fazem?
A música de B&S recebeu vários rótulos ao longo dos anos, mas só um forte o bastante, INDIE POP. Se você classificar como Twee Pop, Jangle Pop, Chamber-pop ou qualquer outro rótulo viadinho e tal, tá certinho.

Vou poupar detalhes sobre os integrantes, porque essa curiosidade só vem depois que a gente realmente se apaixona pela banda... Então vamos ao que interessa.


Não recomendo começar a ouvir B&S pelo primeiro disco "Tigermilk", que é meio pesado e depressivo. Na minha opinião o disco mais fueda deles para iniciar é "If you're feeling sinister (1996) é o segundo disco supimpão do B&S.  Todas as músicas foram compostas por Stuart Murdoch e, bem, são FODAS!

Você pode fazer o download do disco aqui.

Se quiser só ouvir, clique no nome da faixa.

Agora vamos para uma análise das músicas. É queridinho, não basta ouvir Belle.. Tem que desvendar.

The Stars of Track and Field "Make a new cult every day to suit your affair" é a frase que começa essa música e que é mais constantemente usada para definir o próprio B&S. A música conta a história das estrelas da corrida de obstáculos (ou modelos da Track&Field, não se sabe bem) e de suas peripéciais sexuais grupais. Basicamente tem alguém muito revoltado e se sentindo desprezado por uma dessas estrelinhas. A música é embalada por basicamente violão 'barely audible' e bateria incisiva no refrão.

Seeing other people é uma daquelas musiquinhas belas embaladas pelos dedos dançantes no teclado de Geddes que te fazem um dia querer usar num texto a primeira palavra que você aprende nas aulas de literatura e mal sabe como se escreve: "plurissignific ação". Qual é o tema da música? Promiscuidade? Prostituição? Traição? Acostumem-se, assim é B&S.

Me and the Major tem gaitas como aqueles folks americanos, mas não é um folk, quanto menos americano. Mas tem muitas gaitas, isso é verdade. O eco da voz de Stuart no final dá uma impressão de clássico e ao mesmo tempo um "de volta pro futuro" way.

Like Dylan in the movies (e olha a Lisa que é protagonista de tantas músicas do B&S).  A melodia dá um certo tom de perseguição que a letra acompanha ("If they follow you, don't look back, like Dylan in the movies" cantado em coro pela banda) e entre guitarra, bateria e teclado você entende que "isn't your money that they're after boy, is YOU". Pessoas com mania de perseguição, por favor, deixem a sala.

The Fox and the snow é a música mais triste que você já ouviu na sua vida inteira. Realmente trata de uma raposa na neve, procurando o que comer, mas faz uma análise das mazelas humanas (a procura diária de sexo, de alguém pra fazer as coisas por você, o fato de nunca sabermos realmente o que é a vida) e te empreguina da melodia pseudo-alegre na qual foi colada. Backing vocals da Isobel: "what would you do know?"

Get me away from here, i'm dying É O CLÁSSICO MAIS CLÁSSICO DE TODOS OS CLÁSSICOS DE B&S. É impossível que em uma fase da apresentação de B&S pra alguém a pessoa pule "GMAFHID". Um balançar leve de violão, que chega a ser clichê vai dividir sua vida em antes e depois de B&S. A única coisa que eu, mera mortal que não nasceu com o nome Stuart Murdoch, não nasceu na Escócia e sequer te um penteado ridículo (há controvérsias...) é isso:


If you're feeling sinister traz um alegre barulho de crianças brincando num parque. E numa base teclado-violão conta a história de como Antony e Hilary se entregaram a morte. "She was into S&M and Bible studies..." e entre todos os paradoxos e clichês da existência o maior de todos aparece: o fato da gente sempre se sentir estranho. Por mais crente-com-certeza você tem dúvidas sobre a sua fé. Por mais ateu-caretão você tem dúvidas da sua não fé. "But if you're feeling sinister, go off and see a minister, he'll try in vain to take away the pain of being a hopeless unbeliever" é o conselho b&s do dia.

Mayfly, tem como primeira explicação a sábia pergunta: o que diabo é "mayfly"? Como amante de animais considerados asquerosos (como baratas e sapos) lhe apresento uma efêmera:


Efêmera é o nome dado à essa linda mariposa aquática. Efêmera significa "de vida curta" do grego, ou sei lá que língua antiga da qual nós chupinhamos seu nome. Durante essa fase adulta, a efêmera vive poucas horas, tempo necessário apenas pra reproduzir loucamente. Não há sequer um instestino desenvolvido porque comer é perda de tempo pra quem pode trepar. E é sabendo de biologia que se entende "mayfly". A música trata de um amor passageiro, uma trepadinha "antes mal acompanhado que só". Isso claro com a leveza de um tocador de arpa
sem dedos. "Keep me company 'till she comes again". 


The Boy Done Wrong Again chega mais que na hora: Stevie abrindo a boca decentemente pra fazer um semi-dueto com o Stu. Puramente violão e tristeza. "Hang your head in shame and cry your life away" 

Judy and the dream of horses é a Judy "louca rebelde ovelha negra". Porque Judy trepou quando era adolescente e foi ficando biruta de culpa depois, se entregou aos livros e tinha sonhos eróticos com cavalões aos sonhos com cavalos - ou seria uma alusão à liberdade? Terminamos o disco sãos e salvos e com trompetes à cerca de 1:30, e claro, com Judy fingindo que não quer nada com o amiguinho dela. "If you're ever feeling blue then write another song about the dream of horses"..
 

Loursque tout mi ravit, j'ignore
Si quelque chose me séduit.
 

Se il tutto mi rapisce, non so dire
se una singola cosa mi seduce.


Se o tudo me toma, não sei dizer
se uma única coisa me seduz.



- Tout Enteière, Baudelaire

della rinascita


La mia lingua madre mi ha abbandonato.
Ha abbandonato i miei versi, i miei sogni, i miei pensieri.
La cerco attraverso il mare di parola che ondeggia dentro di me, ma le parole si nascondono, mi evitano, sciolgono.
O forse sono stata io ad abbandonarla.
Forse perché tutte le mie sofferenze sono successe in quella lingua.
I miei incubi da bambina li ho sognati tutti sempre in quella meravigliosa, cantante lingua.
O sarà perché non ho mai sentito una parola d’amore vera nella lingua di Camões?
La mia lingua madre è diventata la lingua della delusione, della solitudine, dell’addio, della perdita. 
Ma ha voluto Dio non lasciarmi orfana. Oggi la mia bocca si riempie dell’italiano.
La lingua italiana mi ha trovata già quasi muta, le mie dita si
rifiutavano di scrivere, della mia anima si vedeva solo un filo,
sommersa com’era nell’abisso della’oscurità: senza suoni, senza colore,
senza poesia. 
L’italiano mi ha riportato alla vita. Mi ha presentato l’amore. Ha
riempito la mia vita di colori, tutti verde-speranza.
L’italiano per me è la lingua del ricominciare, della rinascita. Non
solo quella culturale,  ma la rinascita dell’anima.
Oggi mi sento una bambina nell’ inciamparmi nelle parole.
Parole, ma non solo parole: colori, suoni, sensazioni. Parole rosse
di rabbia o passione.  Gementi, sussurrate parole. Addolorate e
piacevoli parole. 
Parole che vogliono sempre dirti qualcosa.
Parole pesanti che affondano nel pavimento e non raggiungono le
orecchie. Parole come bruchi, che non arrivano mai, o come farfalle che
volano lievi su destini incerti.
Le mie, le nostre parole. 
Parole di tutti coloro che cercano una
nuova  lingua, una rinascita, una nuova patria. 
Una parola. 

Per Roza Larissa


Texto de abertura do Evento Pronunce Diverse, na Biblioteca da cidade de Grugliasco, TO, Itália. Abaixo, o vídeo de abertura com apresentação da (melhor) professora de italiano que jamais encontrei, Lidia Moriondo.
 




Bacchino Malato, Caravaggio


 Bacchino Malato (1591, 66x52)

Pintura de olio su tela, de 1593/1954, conservado na Galleria Borghese em Roma.

Trata-se, provavelmente, de um autorretrato do pintor quando o mesmo estava se curando de uma doença, como podemos observar pela cor esverdeada da pele e o azulado nos lábios. A coroa de hedera e os cachos de uva mostra-nos que pintor está representando o deus Dionísio.
Podemos notar o estilo caravaggesco pela falta de esforço que o pintor faz em embelezar a obra, ao contrário, ele nos mostra o corpo e o ser humano exatamente como é. Sem seguir os padrões de beleza da época.
Alguns estudiosos acreditam que o quadro seja uma alegoria a Jesus, onde as uvas simbolizam a paixão de Cristo e a perna esquerda ligeiramente levantada uma alusão a ressureição. Ou talvez, como nos faz crer o sorriso quase confidente de Baco, o artista queira-nos passar a mensagem de que sobreviveu, levando o cacho de uvas maduras à boca como símbolo de saúde, longevidade e plenitude de vida e a perna levantada como significado de renascimento, mas também de vitória, de triunfo ante a doença.

do teu aniversário

“A vida é uma busca inutil de um objetivo impossivel...”



Valzinha são 05 da manhã do teu aniversario. A essa data vários anos atras, nascia uma menininha provavelmente feinha, com cara de joelho, como todos os recem nascidos do mundo, só que essa menina, tinha um diferencial: Ela seria minha melhor amiga.
Ela ia me ajudar, me ouvir, brigar e olhar de cara feia quando eu fizesse algo de errado... E eu me sinto tão, mas tão grata por ter alguem como tu na minha vida... Todo o resto é futilidade. Tu não. Eu posso ser profunda e verdadeira contigo, e tu entende, porque tu também o és.
Não podemos pensar que não nos encaixamos. Porque deveríamos nos encaixar em algum lugar? Estamos aqui graças a um acaso. Essa historia de pensar que fomos escolhidos entre milhoes de esperminhas do cão, é ilusão. Na verdade fomos jogados aqui por uma força maior: o acaso.
Os poucos de nós que nos damos conta, somos fadados a viver insatisfeitos. Seja porque não nos encaixamos em algum lugar, como no teu caso, seja porque, se nos encaixamos, somos constantemente frustradas pelo desinteressante mundo e pessoas ao nosso redor, meu caso.
Mas às vezes, fatalidade do destino, essas pessoas se encontram e nasce essa amizade meio louca e completamente diferente. Eu e tu.
Eu te amo.
Queria escrever mais e abrandar essa teu coraçãozinho de metro e meio de mulher, sete palmos de beleza, tristeza e olhar gateado, mas eu tenho que ir comprar as coisas pro teu café da manha, meu amor...
A gente continua essa conversa com a boca cheia.

 


 04 de Julho de 2010

vozes da floresta

As árvores falam numa língua só delas.
Uma língua rangida que conta de amores-sementes soprados para longe,
De famílias arrancadas por aqueles que não têm raízes,
De membros amputados pela mão dolorosa do tempo.

As árvores falam.
Elas falam comigo quando passeio por florestas frias e escuras.
Elas choram para mim quando me sento perto delas e passo longo tempo a contemplá-las.
Elas choram.
Choram pelos seus dias contados na Terra.
Choram porque ninguém mais as cultua como outrora.
Elas lamentam porque lembram que um dia animais vinham repousar sob sua sombra, elas me perguntam por eles, mas o que eu posso dizer?

Elas sofrem.
Sofrem porque sentem o lamento de todo o planeta.
Elas me dizem: Você não entente, você não tem raízes. Você pode enterrar seus pés no chão, mas nada vai frutificar de você e ninguém virá repousar sob sua sombra.

Eu digo que a entendo.
Eu também choro meus amores soprados para longe.
Eu também sofro pela família que foi arrancada de mim,
E eu também tive sentimentos amputados de mim para nunca mais.
Eu digo que eu também tenho meus dias contados na Terra – todos nós,
E que um dia eu também vou virar raiz.

As árvores se lamentam agora por mim e por elas e por todos nós.
Eu sofro e elas sofrem e os grilos cantam toda uma sinfonia para nós.
E o vento vem e sopra nos meus cabelos e nas suas folhas
E nós nos calamos
Estranhamente reconfortadas.