das minhas abstinências


Outro dia, um moço dos olhos d’água veio me falar de como acreditava que todos os papéis importantes da minha vida pareciam estar ocupados. Mas eu não tenho um loteamento dentro de mim, muito menos espaços premeditados.
As pessoas simplesmente chegam e criam seu próprio espaço. Eu sou mata virgem e tenho meu coração e meus sentidos abertos para a grande novidade que cada um pode ser. As pessoas vêm e fincam suas estacas no meu peito, criam sua história, constroem em mim seus desejos e fazem dos seus, meus sonhos.
Algumas pessoas podem despertar tantos sentimentos. Bons, maus, inesquecíveis, risíveis, mas todos com seu grau de loucura e preciosidade. Eu amaria as pessoas se não as repelisse tanto. Algumas me despertam tanto interesse! Mas com a maioria sinto apenas um ante-cansaço  de saber que não vou encontrar ali nada de novo, nada que me surpreenda.
Ademais me abstenho do mundo. Deixo o mundo chegar a mim da maneira que ele desejar. Tento não me aprofundar demais, tento fechar os olhos, tento ser o oposto absoluto de todos, tento ser o não sei.
Depois de tanto pensar, tanto sentir sem sequer tocar na vida, fecho, cansada, as janelas do meu coração. Excluo o mundo e todos e por um momento me dispo de mim. Amanhã voltarei a ser eu. Deixem-me ser o nada hoje. 
Roza