do amor e outros demônios

O que ele pensa é o que eu falo, mas eu nunca falo o que penso. Pra ele não. É como uma vontade absurda de não me deixar ver.
A contrariedade desse sentimento é quase palpável, pois que não há nada que eu mais queira do que ser reconhecida. A diferença é que, de acordo com meus pensamentos mais torpes, outros poderiam me apreciar, ele não. E mesmo se esses “outros” não se apetecessem de mim isso não me causaria dano nenhum à alma. Mas se nos olhos dele passasse o mais leve sinal de desinteresse isso feriria de modo irreversível meu orgulho.
Assim vamos passando pelos dias um do outro: ele me mostrando o quão maravilhoso é, eu oferecendo só uma rápida olhadela no meu interior, mas ao mesmo tempo me mostrando, de todo meu ser, para pessoas próximas a ele, será isso porque sei que assim ele me conhecerá um pouco mais?
A medida que o desvendo, ele se torna mais inacessível a mim. Essa emoção estrangeira fez de tal forma morada nos meus dias que me pego ruminando-a, conhecendo-a, adorando-a, e, por fim, negando-a. Sim, viro o meu rosto a ela. Não acho que preciso de sentimentos. E de dissimulação em dissimulação, entre o que eu tenho e o que lhe sobra vamos construindo nosso muro, cercando-nos não só um do outro, mas de nós próprios, porque o ‘conhecer o outro’ é se conhecer, quanto mais nos damos mais teremos oportunidade de receber.
Ecos de sonhos que jamais acontecerão passam por minhas horas. Alguns são teimosos e sempre retornam, como tendo prazer em ver esperanças dançando nas minhas feições, outras como pequenas efêmeras voam loucamente ao meu redor, parecendo saber ter só um dia, uma hora de vida, em suma, morrerão logo.
Mas eu ainda não consigo resistir à tua presença, aos teus pensamentos. O momento de te ver são os mais prazerosos e dilaceradores do meu dia. Um entendimento tão grande sem palavras, não porque eu não saiba o que falar, mas porque não foram ainda criadas palavras capazes de atribuir significado ao que me passa no íntimo.
Completamo-nos para no dia seguinte fugirmos apressados um do outro, tímidos da nossa entrega. Tolos, não conseguimos ir muito longe, eu sempre paro e puxo o fio invisível da loucura que nos une. Como fazer para mudar o que fiz para o que quisera ter feito?
Os meus sentimentos dantes sempre foram rápidos e violentos, ondas do mar que no destruir trás mudança, salvação das almas melancólicas. O que sinto hoje é lava ardente, inevitável, que queima lentamente, mas marca para sempre a paisagem pela qual passa.
Anos e anos se passaram e teu encanto ainda é latente, inebria-me. Embriaga-me.
Assim é que seja.

2 comentários:

Théo, desarmado por um sorriso.. disse...

Seu eu soubesse enteder esse texto, ou para quem ele foi escrito...

Me disse...

=X