mudaria a cidade... ou mudei eu?

Quem é que, escutando a palavra evocativa dos velhos, não reteve esta frase melancólica:
- Ah, meu tempo!.. No meu tempo, sim... a vida era doce e alegre... Não era como hoje...
E cada um de nós, ouvindo essas lamentações, volta-se para o seu próprio passado recente, e confirma, com sinceridade:
- Na verdade, tudo vai piorando. O caminho para trás era mais suave e a marcha mais sossegada. Os homens odiavam menos, e as mulheres amavam mais. A vida, dantes, era um grande e contínuo domingo de festa. Hoje, é uma ardente e nervosa segunda-feria de trabalho.
O mundo vem, na realidade, se tornando menos suportável dia a dia, de modo que todos nós, temos saudades de um tempo que passou, ou somos nós que mudamos, e, nessa mudança, vamos estranhando as coisas imutáveis que nos cercam? O tempo será como um rio, a cuja margem nos encontramos, e que desliza diante de nós arrastando barcos e detritos diferentes, ou somos nós que vamos rolando à superfície da corrente, espantando-nos cada dia com a modificação das paisagens da margem?

O mundo evoluiu, sem dúvida; e piorou, sem dúvida; mas piorou unicamente para nós, pois que a geração nova sente hoje o mesmo encanto que sentíamos ontem, e sentirá amanhã a mesma decepção que hoje nos enche o coração de sombra e saudades...
(H. de Campos)

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