ressurgência do silêncio



O teu silêncio é um mar onde navego. Tua palavra, porto passageiro onde abasteço de sorrisos os meus dias, mas a tua presença é terra firme e distante, inalcançável no horizonte e por isso mesmo bela e desejável. 

O teu silêncio afoga minhas alegrias, inunda minhas saudades. Cada palavra que calas é um fôlego que perco. 

Fala! Diz-me o que sentes ou o que não sentes. Diz-me o que respiro para ouvir. Lança ao mar onde me afogo uma palavra em que eu possa me ancorar.  

Mas o teu silêncio impera, Netuno cruel, sobre meus dias. Eu ouso estender a mão para tocá-lo, mas nado para longe e refugio-me em ilhas seguras de palavras afáveis e mãos carinhosas que passeiam por meus cabelos. Que mais posso fazer senão aceitar?

Tuas palavras, antes belas hoje apodrecem em minha boca. Teu olhar se desbota em meus pensamentos, tua presença escoa do meu peito, vaza pelas minhas mãos em prece. Não, não tentarei apará-la. 

Vai! Vai, escoa, vaza, goteja para longe de mim! Vai e que o mar te leve para um destino incerto e que as ondas apaguem as pegadas ligeiras que deixaste no areal outrora calmo, hoje em fúria, dos meus anseios. 

Vomito pelos olhos e dedos todo e qualquer sentimento que tenho – tenho! -, por ti. Mas vai! Não tentes mais plantar mentiras no solo fértil do meu amor.



p.s.: Ressurgência - É um fenômeno marítimo que consiste no afloramento de águas profundas e frias à superfície.


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